Cândido Mariano da Silva - Marechal Rondon
Cândido Mariano da Silva (Marechal Rondon) nasceu em Mimoso, hoje Santo Antônio de Leverger, Mato Grosso, no dia 5 de maio de 1865. Durante sua vida, Rondon dedicou-se a duas causas mestras: a ligação dos mais afastados pontos da fronteira e do sertão brasileiro aos principais centros urbanos e a integração do indígena à civilização. Somente uma ou outra tarefa teriam bastado para justificar o nome de Rondon na História. Mas o ilustre militar foi muito além. Foi o idealizador do Parque Nacional do Xingu e Diretor do Serviço de Proteção ao Índio. Integrou a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, atravessou o sertão desconhecido, na maior parte, habitado por índios bororos, terenas e guaicurus. Abriu estradas, expandiu o telégrafo e ajudou a demarcar as terras indígenas. O reconhecimento da obra de Rondon extrapolou as fronteiras do Brasil. Teve a glória de ter seu nome escrito em letras de ouro maciço no Livro da Sociedade de Geografia de Nova Iorque, como o explorador que penetrou mais profundamente em terras tropicais, ao lado de outros imortais como Amundsen e Pearry, descobridores dos pólos Norte e Sul; e Charcot e Byrd, exploradores que mais profundamente penetraram em terras árticas e antárticas.
Era filho de Cândido Mariano e de Claudina Lucas Evangelista, neta de índios Bororos. Antes do seu nascimento, o pai sentindo-se doente, pediu ao irmão Manuel Rodrigues da Silva Rondon, Capitão da Guarda Nacional, que levasse o filho para Cuiabá a fim de salva-lo da ignorância. Seu pai morreu sem conhecer o filho, que anos depois perdeu também a mãe. Em 1873, o avô materno não queria se separar do neto, mas por insistência do tio, Cândido foi levado para Cuiabá. O jovem estudou na Escola Mestre Cruz e no ano seguinte na escola pública Professor João B. de Albuquerque. Em 1879 entrou para o Liceu Cuiabano e em 1881 formou-se professor.
Carreira Militar
Em 1881, Cândido pediu ao tio para estudar na Escola Militar no Rio de Janeiro. Com autorização do Ministério da Guerra, acrescentou o sobrenome Rondon, em homenagem ao tio que lhe criou. Em 1884, Rondon já estava habilitado para fazer o curso superior. Em 1888 foi promovido a alferes (posto correspondente hoje a "aspirante-a-oficial"), nesse mesmo ano o governo imperial cria a Escola Superior de Guerra, para onde é transferido Rondon.
Instalação de Linhas Telegráficas
Rondon era aluno e também admirador de Benjamim Constant, professor de matemática da escola. Junto com outros alunos fez sua opção política pela República, que em 1889 foi proclamada. Após a Proclamação da República, Rondon foi nomeado ajudante do Major Gomes para a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, com o objetivo de estender as comunicações entre o Rio e Cuiabá, passando por Uberaba e Goiás.
Em março de 1890 ele foi para Cuiabá, onde foi graduado ao posto de capitão-engenheiro e bacharel em matemática e ciências físicas e naturais. Foi indicado por Benjamin Constant para professor substituto da Escola Militar. Rondon passou a chefiar o grupo que fazia o levantamento topográfico para a determinação das estradas e posterior instalação de postes da linha telegráfica. Junto com vinte soldados avançaram pelo sertão desconhecido, na sua maior parte habitado por tribos bororos, algumas já pacificadas.
Em junho, a expedição chega a Registro do Araguaia, onde instala a primeira estação telegráfica. Seguiu avançando pelo sertão, mas a sobrevivência era difícil, a malária fazia vítimas. Em abril de 1891 foram inauguradas as novas estações telegráficas. Sob a chefia de Rondon, em maio a comissão dava por findo seus trabalhos: 1 574 km de linhas telegráficas instaladas. Voltando ao Rio, Rondon assumiu a docência na Escola Militar, mas por pouco tempo. Foi nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso e pediu exoneração do cargo de professor. No dia 1 de fevereiro de 1892, casa-se com Francisca Xavier e, no dia 6 de março parte para Cuiabá com a esposa, para assumir o cargo.
Contato com novas tribos indígenas
Em 1899, Rondon chefiou uma comissão destinada a estender as linhas telegráficas de Cuiabá a Corumbá e para as fronteiras com a Bolívia e o Paraguai. Contou com a ajuda dos índios bororos, que abriam as picadas e erguiam os postes. Em retribuição, Rondon mandou proceder ao levantamento de terras pertencentes aos índios da região de Ipegue e Cachoeirinha e obteve do governo de Mato Grosso o reconhecimento de propriedade. Nesse percurso, Rondon descobriu e nomeou rios, montanhas, vales e lagos, mapeando a região. Em 1906, foi encarregado pelo presidente Afonso Pena, de ligar Cuiabá ao território do Acre, recentemente incorporado ao país, fechando o circuito telegráfico nacional. Nessa expedição trava contato com os índios “nhambiquaras”, conhecidos como antropófagos. Nesse difícil trabalho, sua tropa era instruída para obedecer a seu lema:
“Morrer, se preciso for, matar nunca.”
Pouco a pouco Rondon vencia um duplo desafio: a penetração em um território desconhecido e a pacificação dos índios. No dia 2 de março de 1910, no governo de Nilo Peçanha, Rondon é convidado para assumir a chefia do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), a ser criado.
Expedição Rondon-Roosevelt
Em 1913, já coronel, Rondon é designado para acompanhar a expedição que o antigo presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, pretendia fazer pelo sertão brasileiro, acompanhado de seu filho Kermit, de secretários e cientistas. A viagem tinha o objetivo de recolher material para o museu de História Natural de Nova Iorque, e os brasileiros aproveitaram para fixar com maior precisão certos detalhes geográficos. A expedição que teve início no rio Apa, em Mato Grosso e se estendeu até Belém do Pará, recolheu numerosos exemplares da fauna brasileira e definiu o traçado do antigo rio da Dúvida, rebatizado de rio Roosevet. Terminou em 1914.
Comissão Rondon
A partir de 1915, Rondon dividia seu tempo entre viagens de inspeção pelos territórios que havia desbravado, contatos com tribos indígenas, a direção do SPI e a realização de conferências sobre os problemas indígenas. Até 1917, a Comissão Rondon havia construído 2.270km de linhas telegráficas, instalado 28 estações que deram origem a outros povoados, havia realizado o levantamento geográfico de cinquenta mil km lineares de terras e de águas, determinado duzentas coordenadas geográficas e incluído 12 rios no mapa do Brasil e corrigido o curso de outros.
Em 1919, já general de brigada, é nomeado diretor de Engenharia do Exército, e autoriza a construção de quarteis. Em 1927, depois de concluir a ligação telegráfica da Amazônia com o Rio de Janeiro, Rondon trabalhou na inspeção das fronteiras, por ordem ministerial. Reformado no posto de general-de-divisão, Rondon foi nomeado, em 1934, para a comissão mista da Liga das Nações, para dirimir o conflito entre o Peru e a Colômbia pela posse da região de Letícia.
Parque Nacional do Xingu
Em 1939, Rondon tornou-se o primeiro presidente do Conselho Nacional de Proteção aos Índios. Nesse mesmo ano, recebeu do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o título de “Civilizador dos sertões”. Em 1952, vê aprovado seu projeto de criação do "Parque Nacional do Xingu".
Homenagens
Toda a atuação de Rondon como sertanista e defensor dos direitos dos índios fez com que ele recebesse inúmeras homenagens. Vários eventos científicos em todo o planeta homenagearam-no pelos trabalhos realizados por ele. Aqui no Brasil existem cidades e até um estado que levam em seus nomes uma homenagem a Rondon. No Mato Grosso, a cidade de Rondonópolis e, no Paraná, a cidade de Marechal Cândido Rondon levam esses nomes como forma de homenagem ao sertanista. Rondon ainda foi considerado por muitas personalidades como merecedor do Nobel da Paz pelo seu trabalho na defesa dos índios. Até mesmo Albert Einstein, um grande nome da Física, sugeriu que ele fosse indicado para receber o prêmio. Infelizmente, o sertanista nunca recebeu o Nobel.
Patrono da Arma de Comunicações
Em 1955, Rondon recebeu na Câmara dos Deputados as insígnias de Marechal. Em 1956, em sua homenagem, o território de Guaporé passou a denominar-se Rondônia. Marechal Rondon foi casado com Francisca Xavier, desde 1892, e com ela teve seis filhas e um único filho homem. Nos últimos anos de sua vida, Rondon ainda trabalhava na defesa dos indígenas. Sinal disso é sua atuação para que os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek tomassem medidas que garantissem os direitos dos índios. Ele faleceu no dia 19 de fevereiro de 1958, em sua residência no Rio de Janeiro. A tenacidade, a dedicação, a abnegação e o altruísmo, atributos marcantes de sua personalidade, o fizeram merecedor, com indiscutível justiça, do título de Patrono da Arma de Comunicações do Exército Brasileiro, sendo sua data natalícia tomada como o Dia Nacional das Comunicações.