Obuseiro leve 105 mm M102 AR
História e Desenvolvimento
Durante a Segunda Guerra Mundial, os regimentos de artilharia do Exército dos Estados Unidos consistiam em um batalhão de artilharia de 155 mm e três batalhões de artilharia de 105 mm. Ambos os batalhões de 155 mm e 105 mm tinham doze canhões cada, divididos em três baterias de quatro canhões. Isso deu a cada regimento um total de doze obuses de 155 mm e trinta e seis obuses de 105 mm, isto evidenciava a importância que as peças de 105 mm representavam no conjunto total. Neste período, o principal canhão operado neste calibre era o obus M2A1 que fora desenvolvido no inicio da década de 1940, este equipamento se manteve como padrão durante a Guerra da Coreia e o início da intervenção americana no Vietnã. Sua produção em agosto de 1945 havia atingido a casa de 8.563 unidades, se mantendo em produção pelo Rock Island Arsenal até 1953, totalizando uma entrega de 10.202 peças. Em fins da década de 1950 ficou clara a necessidade do desenvolvimento de um substituto para o M2A1 (que fora posteriormente renomeado como M101). Assim desta maneira em 1960 foram emitidas as especificações almejadas para a abertura do processo de concorrência, prevendo a incorporação de um grande número de novas peças de artilharia de 105 mm.
Novamente foi definido que a produção ficaria a cargo do Rock Island Arsenal, sendo os trabalhos de desenvolvimento iniciados em meados de 1961, com o primeiro protótipo sendo concluído e entregue para testes no primeiro trimestre do ano seguinte e em dezembro de 1963 o agora designado M102 105 mm foi homologado para produção em série. As primeiras unidades de produção foram concluídas em dezembro de 1965, e apresentavam como principal evolução perante seu antecessor um peso final de apenas 1496 kg que comparado ao peso do M101 de 2.258 kg e a capacidade de giro da plataforma em 360º concedendo a capacidade de engajar alvos rapidamente em outros setores. Seu reduzido peso proporcionava o diferencial de poder ser aerotransportado por helicópteros ou aviões de transporte, ou ainda permitir o lançamento em voo de aeronaves C-130 Hercules aumentando significadamente a mobilidade dos regimentos de artilharia do Exército Americano. Um contrato foi firmado para a produção e entrega de 1.150 unidades que passaram a ser recebidas no inicio e 1966, substituindo assim os antigos M101 que dotavam os regimentos de artilharia desde a Segunda Guerra Mundial.
Já declarado operacional em março de 1966, M102 foi enviado para o teatro de operações no Vietnã para ser empregado junto ao 1st Battalion, 21st Field Artillery, passando assim a substituir os antigos M101. Ocorre, porém, que o novo modelo iria enfrentar resistência por parte artilheiros mais experientes não queriam que o velho canhão fosse substituído, levaria muito tempo ainda para que com o uso o M102 passasse a ser melhor aceito. Como pontos negativos esses experientes artilheiros podiam oferecer algumas razões aparentemente convincentes para que a M101 ainda fosse uma arma superior, pois sua culatra na altura da cintura facilitava o carregamento, apresentavam maior distância ao solo quando no reboque e mas o mais importante, consideravam o M102 mais caro e complexo de se manter. No entanto estes argumento foram considerados fúteis pois tecnicamente o novo modelo era superior, tanto em termos de mobilidade (inclusive em terrenos irregulares) devido ao seu menor peso e também devido a maior eficiência de combate, pois apesar de disparar mesma munição semi-fixa que o M101, seu cano mais longo proporcionava uma velocidade de sair maior, obtendo assim um maior alcance do tiro, outro ponto positivo era que sua baixa silhueta tornava o M102 mais difícil para identificação em campo pelo inimigo.
O emprego operacional na Guerra do Vietnã, evidenciou algumas falhas de projeto e oportunidades de melhoria que foram implementadas na linha de produção do canhão, durante as décadas seguintes o M102 se tornou a peça padrão de artilharia de 105 mm do Exército Americano operando com variada gama de munições, participando de todas as ações militares em que os Estados Unidos se envolveram desde a Guerra do Vietnã. O M102 também foi adotado pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos. Em 1985 o Exército Americano ainda dispunha de 526 M102 obuses em seu inventário, quando iniciou-se um gradativo de processo de substituição pelos novos canhões M119 de 105 mm produzidos pela BAE Systems Land Systems. O ultimo emprego em combate real do M102 foi registrado em 2004 quando dezessete obuses pertencentes ao 1º Batalhão, 206ª Divisão de Artilharia, da Guarda Nacional do Exército do Arkansas foram enviados para Camp Taji, no Iraque, onde realizaram de contra fogo em apoio 39º Brigada de Infantaria e a 1ª Divisão de Cavalaria. Curiosamente estas unidades recuperaram nove M102 que se encontravam no território inimigo e que supostamente capturados pelo Exército iraquiano durante a Guerra Irã-Iraque nos anos 80. Atualmente o M102 não está mais em uso ativo pelo Exército Americano, as últimas peças remanescentes estão em uso por unidades da Guarda Nacional.
Curiosamente o M102 105mm Howitzer também é empregado em aeronaves Lockheed AC-130 Spectre da Força Aérea dos Estados Unidos, sendo a peça modificada para ser disparado a partir da porta lateral traseira esquerda do AC-130. A arma embarcada foi usada pela primeira vez nos últimos estágios da Guerra do Vietnã e ainda é usada na aeronave AC-130U Espectre, a versão mais recente desta aeronave. Desde a década de 1970 ,unidades excedentes do Exército Americano que foram disponibilizadas pela gradual desativação do canhão, foram fornecidas a nações amigas através de programas e ajuda militar, entres estes beneficiados citamos a Jordânia, El Salvador, Malásia, Oman, Vietnã do Sul, Irã, Arábia Saudita, Filipinas, Turquia, Brasil e Uruguai, com muitos destes exércitos ainda permanecem operando o M102 até os dias de hoje.
Emprego no Brasil
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste. Por representar o ponto mais próximo entre o continente americano e africano a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida e no intuito de se modernizar as forças armadas brasileiras que até então eram ainda signatárias da doutrina militar francesa estavam equipadas com equipamentos obsoletos oriundos da Primeira Guerra Mundial decidiu-se fornecer ao pais os meios e as doutrinas para uma ampla modernização , este processo se daria pela assinatura da adesão do Brasil aos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que viria a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao pais acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Entre estes equipamentos estavam os primeiros canhões modernos a serem recebidos em grande numero variando de calibres de 37mm a 305 mm, representando um grande avanço para a artilharia do Exército Brasileiro.
Até o final do conflito poucas unidades do principal obuseiro padrão americano de 105 mm M101 foram entregues, muito em função da necessidade de emprego dos mesmos em todos os teatros de operações dos aliados na Segunda Guerra Mundial. A partir de 1966 o sucessor do obuseiro M101 o novo M102 começou a entrar em serviço no Exército Norte Americano, assim em fins desta mesma década centenas de unidades do M101 começaram a ser retiradas do serviço ativo após serem substituídos pelos novos canhões. Recolhidos estas peças e artilharia passaram a integrar o portfólio de artigos militares excedentes que seriam ofertados dentro dos termos dos programas de ajuda militar a nações com as quais os Estados Unidos buscavam fortalecer sua influência. Entre estes estava o Brasil que 1952 havia assinado o Acordo de Assistência Militar Brasil Estados Unidos, assim desta maneira em fins da década de 1960 e no inicio da próxima, uma grande quantidade de equipamento militar seria fornecido, incluindo carros de combate, caminhões, veículos blindados e peças de artilharia, neste último além de um considerável lote de obuseiros M101, foram entregues também uma pequena quantidade dos novos M102 105 mm Howtizer.
Após recebidos no Brasil em meados de 1968 os 19 canhões M102 calibre 105 mm foram transportados para o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, onde passaram por um processo de revisão para liberação para emprego real. Devido a pequena quantidade recebida, o comando do Exército Brasileiro decidiu por concentrar este modelo em somente uma unidade , sendo todo o lote destes canhões direcionado ao 25º Grupo de Artilharia de Campanha - Bagé 25º G A C, sediado na cidade de Bagé no interior do Rio Grande do Sul. Este centenário grupo de artilharia tem sua origem no 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o lendário "Boi de Botas em 1888, desempenhando importante papel na história do país, participando da Revolução Federalista, na defesa de Bagé, seguindo em 1924 para São Paulo e Alegrete, em serviço de guerra, para conter a revolução que se iniciava em São Paulo. Novamente em 1930 e 1932, a Unidade participou das revoluções, apoiando a primeira e combatendo a segunda. Em 1942, participou da defesa de Rio Grande. Em 1944, 23 militares do Grupo integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), este legado permitia a unidade a ter uma das maiores experiencias na operação de artilharia de campanha, sendo este um dos motivos catalisadores desta decisão por parte do comando do exército.
Em operação junto ao 25º Grupo de Artilharia de Campanha, os M102 foram destinados a 2º e 3º Bateria de Obuses, onde passaram a desempenhar em conjunto com as demais baterias equipadas com o M101 as missões do grupo de artilharia. O implemento desta nova peça artilharia trouxe ensinamentos importantes, principalmente nos focados em melhoria de mobilidade e operação, devido principalmente ao peso inferior de apenas 1.496 kg que comparado ao peso do M101 de 2.258 kg e em sua inédita capacidade de giro da plataforma em 360º concedendo a capacidade de engajar alvos rapidamente em outros setores. O fato de poder usar a mesma munição explosiva calibre 105 mm dos M101 que neste período já era nacionalizada sendo produzida pela Imbel (Industria de Material Bélico do Brasil), o que ajudava a otimizar a operação e principalmente reduzir custos, pois seu custo unitário de aquisição era muito inferior ao similar americano importado. O advento da aquisição dos helicópteros Aerospatiale SA-330L Puma em 1981 pela Força Aérea Brasileira deu inicio as operações de treinamento de transporte helitransportado do Exército Brasileiro, sendo os primeiros ensaios conduzidos com os M102, pois originalmente esta peça de artilharia fora desenvolvida com esta finalidade inicial, visando conceder grande mobilidade ao canhão.
Apesar da grande contribuição dada ao desenvolvimento de uma doutrina militar mais atualizada junto ao Exército Brasileiro, a baixa quantidade de peças disponíveis inviabilizava os custos de operação e manutenção, assim em 1996 decidiu-se pela desativação dos M102, mantendo em operação junto ao 25º GAC o obuseiro M101, peça esta existente em maior numero no exército, ocorre porém que apesar da aquisição de modelos mais modernos como os L-118 Light Gun ou M-56 Oto Melara, amenizaram um pouco a defasagem tecnológica da artilharia de campanha no Brasil. Atualmente existem dois M102 conservados, sendo um no próprio 25º G A C e outro no acervo do Museu Militar do Comando Militar do Sul, na cidade de Porto Alegre – RS.
Em escala
Para representarmos o obuseiro 105 mm Modelo M102 , fizemos uso do excelente kit da AFV Club na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal, e borracha. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não é necessário proceder nenhuma mudança, podendo ser montado direto da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura camuflada em dois tons, empregado em todos os veículos do Exército Brasileiro e também em alguns modelos de peças de artilharia a partir de meados da década de 1980, substituindo assim a pintura original totalmente em olive drab original de seu período de recebimento no Brasil.