FUZIL MAUSER NO BRASIL
Os armamentos Mauser foram destacadamente importantes durante as duas Grandes Guerras Mundiais. Desenvolvidos pelos irmãos alemães Wilhelm Mauser e Peter Paul Mauser, foram adotados pelo Império Germânico em 1884, e adquiridos pelo Brasil, dez anos mais tarde, em 1894, através da empresa Ludwing Loewe.
Figura 1 - Fuzil Mauser “brasileiro”, modelo 1894. Fonte: Armas On-line. Disponível em: https://armasonline.org/armas-on-line/as-espingardas-da-fabrica-de-itajuba/. Acessado em 29/3/2021.
Para que seja possível entender as ações que levaram à aquisição dos fuzis Mauser neste período, é necessário que sejam destacados os fatos históricos relevantes da época, tais como a Guerra de Canudos, a Primeira Guerra Mundial, a Revolta Tenentista, a Coluna Prestes, o Governo Vargas, além da própria Proclamação da República, em 1889, que colaborou, sobretudo, com a aquisição de variados arsenais militares devido à Federalização implantada,
que permitiu aos Estados a autonomia para adquirirem armamentos sem necessitar da aprovação dos Arsenais Federais.
Desta forma, é possível encontrar em nossos arsenais, artefatos com datas e naturezas distintas, não obstante, é comprovado o protagonismo dos Fuzis Mauser neste cenário, inicialmente com o modelo 1894, já apresentado na figura 1, e, posteriormente, com sua versão aperfeiçoada, o modelo 1898, importado pelo Brasil a partir de 1908, ilustrado pela figura 2 abaixo.
Figura 2 - Fuzil Mauser “brasileiro”, modelo 1908. Fonte: Armas On-line. Disponível em: https://armasonline.org/armas-on-line/as-espingardas-da-fabrica-de-itajuba/. Acessado em 29/3/2021.
Como já foi destacado, as primeiras grandes aquisições dos Fuzis Mauser datam de 1894 e sua motivação histórica inicial esteve relacionada diretamente ao crescimento vertiginoso da Aldeia de Canudos e à preparação do Estado para o conflito vindouro.
No ano de 1895, aditivando a aquisição inicial do ano anterior, o Brasil também adotou o Mauser da FN Herstal, de importação belga, e, por este motivo, os registros históricos brasileiros apontam o nome correto associado aos armamentos de ambas as compras desse modelo como Mauser 1895, ou M1895.
Ambas aquisições também integraram um movimento de modernização das Forças Nacionais, uma vez que foram realizadas a fim de substituir os antigos armamentos Comblain e Mannlicher, afinal, neste período, os fuzis Mauser apresentavam-se internacionalmente como os equipamentos mais confiáveis, resistentes e duráveis de sua categoria de armamentos.
Como já foi mencionado, em 1908, o Governo Brasileiro resolveu substituir o modelo 1895 pelo mais moderno e reforçado modelo da Mauser, o 1898, denominado no Brasil como Mauser modelo 1908 (Figura 2), ano esse em que o armamento chegou ao país. Trata-se do modelo objeto da exposição em questão, sucintamente abordado neste texto, mas carregado de história.
CURIOSIDADES
MAUSER E A SOCIEDADE NA ÉPOCA
Foi retirado do livro “Como dei cabo de Lampião” de João Bezerra, um trecho que é capaz de ilustrar a forma como transitava o armamento na sociedade brasileira, sugerindo uma “facilidade” na aquisição de um exemplar, na época:
O chefe precisa sempre arranjar um mosquetão ‘Mauser’ por ser uma arma de
confiança e que lhe servirá quando for atacado pelos bandidos. Invariavelmente
aparece uma ex-praça com algum fuzil ‘que trouxe da revolução’. Ora, às
vezes, semelhante praça não havia tomado parte em revolução alguma, porém a
arma não deixa nunca de ter sido originada dum movimento revolucionário.
(...) Em seguida, vem invariavelmente a grande necessidade de munição. (...)
Aparece, então, outro soldado que encontrou na estrada um pente de munição
adequada àquela arma que, por certo, veio também de São Paulo (...)
(BEZERRA apud MELLO, 1983, p. 6).
ANTECESSORES DO MAUSER-CARABINA BELGA COMBLAIN
Figura 3 - Carabina Comblain modelo 2. Fonte: Armas Brasil. Disponível em: <http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ ArmasFogo/comblain.htm>. Acessado em 29/3/2021.
Regulamentada no Exército Brasileiro no ano de 1873, o modelo Belga Comblain (Figura 3) permaneceu como a arma regulamentar da infantaria do Império até 1892, quando começou a ser substituída pelo modelo Mannlicher. No entanto, ainda teria sido usada durante a Revolução Federalista, a Revolta da Armada e a Guerra de Canudos (ARMAS BRASIL).
ANTECESSORES DO MAUSER- FUZIL ALEMÃO MANNLICHER
O Fuzil Alemão modelo 1888 ou Mannlicher (Figura 4), como é chamada nos manuais do Exército Brasileiro, foi o precursor na denominação “Fuzil”, tendo sido a primeira arma de repetição de uso geral da infantaria brasileira a usar cartuchos de pólvora sem fumaça, com alta velocidade inicial e de calibre reduzido (ARMAS BRASIL).
Figura 4 - Uma carabina Mannlicher, modelo 1888. Fonte: Armas On-line. Disponível em: http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/mannlicher.htm. Acessado em 29/3/2021.
A Mannlicher chegou por volta de 1892 com o objetivo de substituir as carabinas Comblain, as clavinas Winchester e Spencer, mas os incidentes apresentados pelo mecanismo de escape de gases devido ao acúmulo de poeira o fizeram ser substituído nos anos seguintes, fato este, intensificado ainda por este armamento ser produzido pela mesma fábrica do Mauser, que o sucedeu e o retirou das linhas de produção pouco tempo depois. No entanto, esse armamento teve uma participação muito importante nas lutas da Guerra de Canudos, junto a Comblain e a Mauser. (NETO, 2009).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
. ARMAS BRASIL. Comblain. Disponível em: <http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ ArmasFogo/comblain.htm>. Acesso em: 29 de março de 2021.
. Mannlicher. Disponível em: <http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/mannlicher.htm> Acesso em: 29 de março de 2021.
. Mauser. Disponível em: <http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/ mauser.htm> Acesso em: 29 de março de 2021.
. Mauser Belga. Disponível em: <http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ ArmasFogo/mauser_belga.htm> Acesso em: 29 de março de 2021.
NETO, F. P. C. Fuzil da Comissão Alemã de 1888 “Gewehr’88”. Disponível em: <https://armasonline.org/armas-on-line/o-fuzil-da-comissao-alema-de-1888-gewehr88/>. Acesso em: 26
de março de 2021.
. Fuzis e Carabinas na I e II Grandes Guerras. Disponível em: <https://armasonline.org/armas-on-line/os-fuzis-e-carabinas-na-i-e-ii-grandes-guerras/>. Acesso em: 26
de março de 2021.
. Fuzís Mauser no Brasil e as Espingardas da Fábrica de Itajubá. Disponível em: <https://armasonline.org/armas-on-line/as-espingardas-da-fabrica-de-itajuba/> Acesso em: 27 de março
de 2021.
. O Calibre 8mm Mauser. Disponível em: < https://armasonline.org/armas-on-line/o-calibre-8mm-mauser-79x57/> Acesso em: 27 de março de 2021.
. Rifles e Carabinas Winchester “Lever-Action”. Disponível em: <https://armasonline.org/armas-on-line/os-rifles-e-carabinas-winchester-de-acao-por-alavanca/> Acesso
em: 27 de março de 2021.
. WIESEBRON, Marianne L. Um século de comércio de armas da Bélgica para o Brasil: 1830-1930. Ciência & Trópico, v. 22, n. 1, 1994.